domingo, 4 de maio de 2008

A casa dos outros

Ter como profissão passar a vida a vender a casa de outras pessoas leva-me muitas vezes a reflectir sobre a velha questão: O que é que a nossa casa diz sobre nós. Hoje enquanto estive meia hora numa casa habitada com os proprietários ausentes (os quais eu não conheço, por a casa não ter sido angariada por mim), não pude deixar de reflectir sobre o mesmo. Uma das coisas que me chama sempre a atenção é quando não existem livros em casa, quando nem as crianças têm livros infantis no quarto. E já estabeleci uma relação directa entre isso e a decoração da casa. Não é que o facto de uma pessoa não ter livros fará com que tenha uma casa “desagradável à vista”, mas quase sempre as casas “desagradáveis à vista” são de pessoas que não tem livros em casa. Eu sei que cada um tem o direito de viver a vida como quiser e gostos não se discutem, que eu própria não sou exemplo para ninguém uma vez que a minha casa está muito longe daquilo que eu desejava que fosse, e uma pessoa que neste momento tem como tapete da sala um tapete de actividades da Chicco não pode cuspir para o ar, mas de facto sentada no sofá do cliente não pude deixar de reparar em como a casa era totalmente anti Feng Shui . Eu sei que nem toda a gente conhece as regras básicas do Feng Shui , mas até certo ponto penso que estas se misturam com as regras básicas do bom gosto e da harmonia no lar. Será que as pessoas se sentem bem naquelas casas, será que gostam do mobiliário afiado, dos candeeiros ferrugentos cheios de bicos, dos quadros cujas molduras saltam para além dos limites da lareira. Mas o gosto é realmente uma coisa relativa e a realidade é que muita gente prefere ter um candeeiro ferrugento antiquado cheio de triângulos bicudos a apontar para todos os pontos da sala do que comprar um candeeiro redondo de papel por 5 euros. Será que as pessoas se sentem bem numa casa onde a mobília está tão mal distribuída que as portas não abrem totalmente, onde a mobília da sala e feita de matérias que eu usaria para arrumações na arrecadação, onde a mobília do quarto é de plástico a imitar granito de cozinha, onde ao acordar a primeira coisa que se vê é uma churrasqueira suja na varanda do quarto (?), e o que dizer dos contentores da reciclagem no hall de entrada, e quando os metros de calha técnica que atravessam o MEIO das paredes são tantos que dariam para dar a volta ao quarteirão, certas coisas não são uma questão de dinheiro são simplesmente uma questão de gosto (bom gosto?). A casa em si é boa, gira e têm óptimas vistas, mas é realmente difícil as pessoas abstraírem-se de certas decorações, os clientes vieram e não gostaram da casa, estiveram lá dentro 2 minutos se tanto e eu sinto que também não consigo passar uma energia positiva que me leve a vender casas assim. E há tantas. Tantas casas sem livros…

5 comentários:

Isabel disse...

Bem... a ver se empresto uns livros meus para o Miguel colocar em casa dele então :(

sofia disse...

Isabel, não compares.
A casa do Miguel não é anti Feng Shui

Anabela disse...

Bem, com essa descrição mais parece uma casa assombrada.......

Patrícia disse...

Deve ser de um mau gosto que até dói!!!
Bjs

Sara disse...

E quando pintam inteiramente as paredes da casa com bordeaux (sala de jantar), laranja vivo (hall de entrada), verde alface (sala, escadas e hall do piso de cima) e azul forte (quartos)? Como é que alguém consegue viver numa casa daquelas??